quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Região nordeste e a sua literatura

No Brasil a Literatura de Cordel teve seu destaque na região Nordeste entre os anos 30 e 50. Nos meados dos anos 40 aumentou em muito a procura por estes livretos, escritos em versos, sextilhas, septilhas ou décimas impressos em xilogravura. O conteúdo normalmente abrange o relato do dia-a-dia do sertanejo e a vida política do país. Os autores deste gênero de literatura são chamados cordelistas.

Três aspectos da literatura de cordel ressaltam a capacidade do Homem em buscar alternativas para expressar e divulgar a sua criatividade. Além de serem escritos em poesia narrativa, os livretos são impressos artesanalmente em xilogravura no qual a reprodução de imagens e textos se faz por meio de pranchas de madeira gravadas em relevo, tornando possível a impressão de forma simples e barata. E outro aspecto importante é o fato dos livretos serem divulgados e vendidos pendurados em varal de cordas o que deu origem ao nome Literatura de Cordel.

A origem desta forma de expressão tão peculiar é antiga e remete à Europa nos idos do século XV, mas precisamente Holanda e Alemanha. Apesar de serem escritos em prosa, alguns dos folhetos já apareciam em versos impressos em xilogravuras exatamente como ainda hoje, no nordeste brasileiro. Na Espanha, o mesmo tipo de literatura popular era chamado de “Pliegos Suletos” tendo mais tarde chegado a América Latina com o nome de “Hojas” e “Corridos”. Na França eram conhecidos como “Literature de Colportage” e eram mais difundidas no meio rural. Na Inglaterra folhetos relatavam acontecimentos históricos e tinham o nome de “Cocks” ou “Catchpennies”. Em Portugal, a partir do século VXII, circulavam em feiras as denominadas “Folhas soltas” ou “Volantes”.

Acredita-se que a Literatura de Cordel chegou ao Brasil no fim do século XIX trazida pelo colonizador luso. Os próprios autores confeccionavam os textos em formato 11x15 em papel jornal de baixa qualidade. Os livretos eram pendurados em barbantes e cantados em feiras e praças públicas, geralmente acompanhados por um músico.

Ainda hoje a literatura de Cordel mantém-se viva e bastante difundida no Brasil, apesar da tradição ter permanecido em sua maioria na região Nordeste. Vários escritores conceituados foram influenciados pela Literatura de Cordel entre eles, Ariano Suassuna, João Cabral de Melo Neto, José Lins do Rego e Guimarães Rosa.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Cordel: patrimônio cultural brasileiro

AS HISTÓRIAS DO POVO DO SERTÃO

Literatura de cordel é a criação popular em verso, impressa artesanalmente em papel jornal e ilustrada a partir de xilogravuras, um método de escavação em uma prancha de madeira onde é passada a tinta e sobre a qual se coloca o papel a ser impresso. Chama-se “cordel” porque os folhetos são pendurados em cordões nas feiras livres do norte e nordeste do país. Texto e imagem mostram, de moto pitoresco, cômico ou trágico, casos verdadeiros ou fantásticos, moralidades que registram o pensamento do povo e que são também declamados pelos vendedores.
Os temas mais freqüentes no repertório do cordel são o cotidiano do homem comum, o cangaço, o amor, os castigos do céu, os mistérios, os crimes e a corrupção, as festas populares e os costumes. “Os grandes acontecimentos / desastre, chuva ou virada/ de um trem ou caminhão,/ incêndio numa morada/ ou morte de um personagem/ davam uma história traçada”.
J. Borges é um típico artista popular, sendo um dos maiores responsáveis pela difusão da arte de cordel. É reconhecido no país e no exterior como parte do patrimônio cultural brasileiro, por extrais texto e gravura da aspereza da vida e em seu trabalho como cronista das comunidades anônimas do nordeste brasileiro.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Cordel é expressão viva da cultura nordestina

Ao contrário do que se pensava, a tradição do cordel continua viva, e revela talentos raros preservados no interior

A cultura popular é um magnífico tesouro que brota da alma da nação nordestina. Abrange um elenco de manifestações que fazem parte do cotidiano do sertanejo que guarda no peito um verdadeiro relicário de valores expressivos, que vão se perpetuando pelas gerações, e alimentando a memória viva da nação. Uma das maiores expressões dessa cultura é a literatura de cordel, que enche de poesia os terreiros das casas sertanejas e, também, as feiras livres do interior.

O cordelista é um representante do povo, o repórter dos acontecimentos da vida no Nordeste do Brasil. Não há limite na escolha dos temas para a criação de um folheto. Pode narrar desde os feitos de Lampião, com até as "presepadas" de heróis como João Grilo ou Cancão de Fogo, uma história de amor ou acontecimentos importantes de interesse público.

A literatura de cordel é assim chamada, segundo pesquisa da Fundação Joaquim Nabuco, pela forma como são vendidos os folhetos, dependurados em barbantes (cordão), nas feiras, mercados, praças e bancas de jornal, principalmente das cidades do interior e nos subúrbios das grandes cidades.

Linguajar
Devido ao linguajar despreocupado, regionalizado e informal utilizado para a composição dos textos, essa modalidade de literatura nem sempre foi respeitada, e já houve até quem declarasse a morte do cordel. Ao contrário do que se previa, o cordel ganhou o mundo.

Os versos do Patativa do Assaré, por exemplo, passaram a ser estudados na Universidade de Sorbonne, na França. Os violeiros de ontem que eram vistos com certo preconceito, ganharam as ruas, as universidades e os teatros.

Ao longo deste tempo, além de mudanças temáticas, o cordel passa também por várias transformações no plano da forma. Nas capas, anteriormente ilustradas com clichês utilizados em jornais e revistas, passa-se a empregar cartões postais, fotografias de artistas de cinema, desenhos e xilogravuras.

Outros elementos tomados de empréstimo da imprensa escrita foram abandonados como, por exemplo, a divisão, seguindo o estilo dos folhetins, de uma mesma história em três diferentes folhetos. As histórias, por sua vez, diminuem de tamanho passando a predominar os folhetos de 8 ou 16 páginas sobre os de 32 ou 64 páginas.

Pesquisa
Acompanhando o processo de globalização e de abertura do modelo cultural, o cordel é estudado e pesquisado, com grande interesse, nos meios acadêmicos, debatido em ciclos literários e até mesmo em conferências mundiais.

De acordo com Ariano Suassuna, um estudioso do assunto, a literatura popular em versos do Nordeste brasileiro pode ser classificada nos seguintes ciclos: o heroico, o maravilhoso, o religioso ou moral, o satírico e o histórico. A região do Cariri, no Brasil, é o celeiro de grandes poetas cordelistas.

Entre os mais famosos podem ser citados os irmãos Bandeira (Pedro, João Chico e Daudeth Bandeiras), que aqui aportaram, trazendo na alma a fé no Padre Cícero e, no sangue, a veia poética do avô Manoel Galdino Bandeira, um dos maiores cantadores da viola do sertão paraibano.

Nas pegadas dos Bandeiras, surgiram outros valores que transformaram em poesias os programas de rádio das emissores caririenses, ou varando as madrugadas em desafios poéticos que ecoam nos pés de serra da região do Cariri.

"Com esta nova geração de poetas, a literatura popular está longe de desaparecer e continua aí para, talvez, ser uma primeira opção na luta pela difusão da leitura no Brasil", aposta o poeta João Bandeira de Caldas.

Jornalismo
O cordel tem uma estreita ligação com o jornalismo. Eram impressos nas mesmas impressoras dos jornais do passado. No início do século passado, quando os jornais não chegavam ao interior, o cordel ocupava o espaço dos jornais e emissoras de rádio. O cordelista era uma espécie de repórter itinerante que andava de feira em feira, levando à população os últimos acontecimentos da semana.

Notícia
Para que se tenha uma ideia dessa função jornalística, basta lembrar que, quando Getúlio Vargas morreu, um dos poetas de cordel mal ouviu a notícia pelo rádio, começou a escrever "A lamentável morte de Getúlio Vargas". Entregou os originais ao meio-dia e à tarde recebeu os primeiros exemplares. Vendeu 70 mil em 48 horas.

Outro assunto que teve grande repercussão foi "O trágico romance de Doca e Ângela Diniz". A "Carta do Satanás a Roberto Carlos" também teve grande sucesso, inspirado na música que dizia "E que tudo mais vá pro inferno!". Os folhetos de cordel tratam, de forma cômica e, de certa forma irônica, diversos temas como, por exemplo, seca, traição, violência, amor, desilusões, entre outros.


Fonte: http://diariodonordeste.globo.com